28.5.12

o olho em espiral

[ou Eye of Sahara, ou Richat Structure]*

o olho do deserto é cego de névoa.

é cego de olhar em espiral,
[atônito de si mesmo, de sua pele horizonte].

olho cego de névoa


o olho do deserto é constante nuvem.
nuvem de ventos distantes,
ventos que caminham a distância para dentro do olhar.

sou cego de névoa e enquanto caminho percebo turvamente o meu redor.

o olho cego é antes de tudo um olho tátil.
a cada superfície diferente, todos os dias diferentes...
superfícies de torpor e vertigem.
[horizontes vertiginosos, horizontes alucinados, horizontes enleados, horizontes  atordoados].

...
o olho cego de névoa, quando não pode olhar para fora, olha para dentro.

[há tanta neblina lá fora, e o sol aqui dentro].

olha para dentro e respira fundo até o equilibrista.

[não importam os pesos, as medidas, as gravidades.
não importa os dizeres, as tantas palavras, os discursos difusos.
o equilibrista caminha sempre em uma única direção, sempre a meta.
o foco de viver, a busca de seu horizonte oásis.]

o oásis em cada olho é o oásis particular.
existem tantos oásis quanto existem pessoas.

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* mais informações e imagens, aqui.

o deserto colecionado

o deserto dos outros:
[não consigo deixar de me perguntar... qual a diferença do deserto rochoso, diferente do deserto areia, areia-movediça...]



a desert feeling.
 ·  · 


11.5.12

o limbo é eco

O limbo é deserto de eco.

O eco é o limbo de longas e curtas distâncias,
E caos organizado de som repetitivo.
É na repetição se perder e se encontrar.

Mas o eco é caminhante e quem caminha encontra o fim do deserto.

E eu só quero atravessar o deserto com White Denim.


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White Denim na música Light Light Light, no álbum Last Day of Summer.


4.5.12

adubar o deserto

o deserto é a busca do oásis.

sobre o oásis:
a ilusão não está no objeto de desejo, está no lugar do objeto de desejo.
algo que é buscado cegamente no lugar onde ele não está.
então, a questão: se eu mudar de lugar, alcanço o desejo?

o deserto é local a ser atravessado, não é lugar de chegar.

e todo o trajeto tem a mesma paisagem,
dissimulada como as dunas...

...
toda a areia com as marcas dos meus pés.
caminho na estrada, caminho na paisagem.

cada marca é um ponto-grão de areia.
um ponto marcado como a ponta da bengala de quem quer chegar.

é que em cada marca eu adubo a terra,
adubo a distância percorrida,
[toda a distância projetada],
cimento a areia,
[areia não-movediça, areia não-oásis],
atravesso o salto no tempo de aterrizar.

mergulho no salto, mergulho-trajeto.
o limite do deserto é a outra parte da estrada.
estrada de cimento sinuosa,
sinuosa de velocidade de viver.

o salto em vertigem

o respiro anterior ao salto é longo.
sabemos, pois percorremos todo ele.
uma caminhada interior.

o salto é indistinto.
é tempo transformado.
é curto,
um mundo em pequena distância.

meditativo. o salto é ação-dentro.
e tudo é turvo...
.................................
grandes distâncias percorridas num fragmento de pensamento.
grandes profundidades sentidas numa emoção só.
grandes profundidades caminhadas,
tudo que é tão próximo cada vez mais distante.

...

um salto é um passo em milhares de passos.
é cruzamento.
um passo denso. 
dentro.

dentro dele o mar.
o mar revolto
o mar vertigem.
é não saber onde começou
é não entender quando vai terminar.

.................................

o salto é como voar e voar é também aterrizar.
o salto é lapso-temporal.

distâncias-vertigens, o oásis no deserto.
é a busca de atravessar, indistinto o tempo que demore,
indistinto o viver de chegar.