10.4.12

duas canções e cores viajantes

ambas nebulosas, sorturnas.
ambas se transformam em penumbra e poeira.

Gray Goes Black

Black Gives Way to Blue


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Gray Goes Black: Mark Lanegan no álbum Blues Funeral, aqui.
Black Gives Way to Blue: Alice in Chains (mais ou menos, pra mim), no álbum Black Gives Way to Blue, aqui.


o deserto em mar

é o local onde a 52Hz Whale vive.
é viver alone, mesmo com os outros distantes não muito longe dali.

[ e seu canto chorado é a busca impossível de um oásis ]

9.4.12

solidão em mares graves

achei este texto sem autoria específica* na internet:

If there ever was a member of the Lonely Hearts Club, this is it. This New York Times article from 2004 features the story of a lonely whale. Since 1992, this whale has been tracked by the NOAA using special Navy equipment used to monitor submarines. This particular whale always travels alone, without family, without a mate. Why? Because other whales cannot hear it. Or, they can, but the sound of its voice is not attractive for some reason. This whale sings at 52 Hertz (about the lowest note on a tuba), which is much higher than most whales, whose calls range from 15 to 25 Hertz. For this reason, he’s been nicknamed “the 52 Hertz whale.”

This whale also doesn’t follow normal whale migration routes, making it difficult to run into others on the freeway. So this whale just keeps swimming around the vast ocean, alone, with no one to talk to. He keeps sending out a call that no one is answering. It’s thought that this whale is possibly a hybrid between two different species, is deaf, or the last surviving member of an unknown species. It’s difficult to tell, because apparently no one has ever seen the whale. In the way that his fellow whales have never heard him, we apparently have never seen him.

outra versão:

Em 2004, o The New York Times escreveu um artigo sobre a baleia mais solitária do mundo. Os cientistas têm controle dela desde 1992 e descobriram o problema: ela não é como qualquer outra baleia. Ao contrário de todas as outras baleias, ela não tem amigos. Ela não tem uma família. Ela não pertence a qualquer tribo, pack ou gang. Ela não tem uma amante. Ela nunca teve um. Suas canções vêm em grupos de dois a seis chamadas, durando de cinco a seis segundos cada. Mas sua voz é diferente de qualquer outra baleia. É único — enquanto o resto de sua espécie se comunicar entre 12 e 25 hz, ela canta a 52 hz. Você vê, que é precisamente o problema. Não há outras baleias podem ouvi-la. Cada uma de suas chamadas desesperadas para comunicar permanece sem resposta. Cada grito ignorado. E, com cada canção solitária, ela se torna mais triste e mais frustrado, suas notas indo mais fundo em desespero como os anos passam.

Imaginem que mamífero maciço, flutuando sozinha e cantando — demasiado grande para se conectar com qualquer um dos seres pares, sentindo-se paradoxalmente pequeno em vastas extensões de oceano vazio, aberto.




Fico aqui pensando nas metáforas de superfície, primeiramente:

...às vezes parece mesmo que nem precisamos falar, como se soubéssemos desde já que temos uma voz distinta de todo o resto.

É que variamos os Hz.

O que nem sempre controlamos, é qual Hz queremos usar.

...às vezes me esforço no timbre errado, e assim ninguém irá me escutar mesmo.
ou uso a potência certa, mas no lugar errado. Não há ninguém que vá me ouvir aqui.

Então ficamos a vagar, esperando encontrar algo que já se foi para outro lugar.

...

A 52Hz whale é um momento, um lapso espaço-temporal.
É estar no mar profundo com voz de tuba,
é ter vontade de navegar sozinha.
[minha correnteza é distinta, mesmo murmurando e chamando os outros baixinho].

é lapso porque em qualquer outro momento sou ouvida.
mesmo que não queria,
mesmo que esteja navegando em outra corrente.
[não existem ilhas de água dentro do mar].


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* A versão em inglês, foi encontrada aqui. Já a versão em português foi achada no facebook, em locais diversos. - A imagem acompanha o primeiro site, mas assim como outras imagens encontradas, difícil precisar a legitimidade. - Fica a ilustração pela "vazia" intenção de ilustrar, de fazer este meu caderno de notas algo "caderno botânico".

** Mas, o citado artigo do New York Times está aqui.

*** E o som dela, sua com sua profundidade triste de tuba, aqui.

4.4.12

as águas agitadas em mares profundos

são águas sonoras graves,
ecoam em silêncio.

fingem-se de calmas.
são torpor em propagação.

...

o tempo passa em outro tempo,
em ar [não ar],
e tudo o que couber em um respiro [em eco].

1.4.12

salto ornamental com obstáculos-redemoinhos

enquanto você se prepara para ter certeza,
[os passos cada vez mais alinhados em linha reta]
nada te prepara para o imprevisível.

o imprevisível repulsivo-revulsivo.

onda quebrada no mar.
espiral cortante como navalha.
redemoinho de dor.
felicidade distanciada.

obstáculo que te corta em pedaços, devorando a existência.
esfacelando o pensamento, transformando-o em vertigem.

...

tudo que estava ao alcance da mão agora parece a quilômetros de distância.
quilômetros de ar rarefeito
que não sabemos como percorrer.

o obstáculo tem envergadura temporal também imprevisível.
e viver a dor é viver a busca do fim da dor.

o obstáculo é um fosso redemoinho.
é onda que te engoliu inteiro, e as ondas confundem-se com o mar.

mas o mar é isso e muito mais.
[respire um segundo na superfície e você verá].
é também calmaria distante de alto-mar.
é profundeza de sonho.
e existem as águas calmas e claras de tristezas distantes.

...

não há receitas para fugir do redemoinho de navalhas.
e se estas te cortarem a pele, bem, você está vivo.

sou peixe abissal vivo de luz.
vivo de vontade resplandecente,
de força propulsora contra ar.

...........................

peixe, cuspe, flecha, lança, míssil.
no ar.
[e no chão dentro de mim].

... em direção às águas profundas e agitadas de sonhos tão reais.