28.3.11

sobrevoar conversas


As conversas são como lugares.
E às vezes simplesmente não desejamos estar neles.

mudar de conversa - mudar de geografia.

às vezes somos vizinhos [linhas paralelas]:
conversam conosco como se estivéssemos ali,
mas já fugimos para casa
[ali do lado - nem perceberam].

às vezes somos paraquedistas:
caímos sem querer, sonhamos com o resgate.

às vezes sou ilusionista:
acham que ainda estou ali, e meu holograma de fato está.
enquanto converso, viajo para outros mil lugares.

...

sobrevoar conversas:
sons indistintos chegam nas alturas
capto o que o acaso faz interessar,
engano o outro como quem presta uma gentileza.


sobre o amor.

A arte da batalha é o desprendimento.


13.3.11

a vontade e o olhar.


No que me diz respeito, mais importantes ainda que o encontro de certas disposições de coisas para o espírito, me parecem as disposições de um espírito em relação a certas coisas, duas espécies de disposições que regem por si mesmas todas as formas de sensibilidade.*

Mal vale a pena ver, sem querer ouvir-perceber.
Breton bem sabia do acaso: jogar-se é como ter os olhos muito abertos.

Mas nem desejo ver tanto,
apenas vontade de ser alguém sem guarda-chuva.**

*André Breton, Nadja, ed. cosac naify, 2007
**Enrique Vila-Matas, A Viagem Vertical, ed. cosac naify, 2004


10.3.11

descompostura.


disse a ele: [...] e que o caminho da arte era o da impostura , que a única fonte do belo era a ação, e que a arte na verdade era somente uma maneira de fazer, e não uma forma de pensar. O importante era a ação. Todo o resto tinha algo de doentio.*

[...]
Estranhamente, sou uma artista quando tudo começa na "forma de pensar".
sou artista desde a origem do pensamento.

Por outro lado, pensar é como vivenciar sozinho e não falar:
O ato de expressar verbalmente [e em outros lugares] dá vida ao pensamento e a certos acontecimentos.
Não falar é como se nada tivesse acontecido.

Se eu levar o meu pensamento para tudo o que fizer, ele estará impresso inclusive nas formas.
Isto é tudo o que importa, como uma alavanca de ação.


*Enrique Vila-Matas
A Viagem Vertical, ed. Cosac Naify, 2004.


8.3.11

geografia íntima.


"Viajar é, sobretudo, um clima, um estar a sós, um estado discretíssimo de melancolia e solidão."

Enrique Vila-Matas
A Viagem Vertical, ed. Cosac Naify, 2004.